quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Sétimo cap. - Let it Be

Quinta-feira, quinta-feira; à noite (não sei que horas são porque ALGUM IRMÃO BABACA jogou meu relógio de patinho pela janela)
Hoje o dia foi tão bom quanto ontem. Não escrevi nada de tão corrido que foi. Parece que todo o PLANETE TERRA está feliz com a minha partida. Tem as pessoas que estão felizes por mim e as pessoas que estão dando graças a Deus que eu estou indo embora. Mas a pessoa mais feliz de todas, obviamente, sou eu. Qual é, EU VOU PRA LOS ANGELES DEPOIS DE AMANHÃ!
A Thaís veio aqui em casa depois da escola de novo. Nós compramos umas malas ontem no shopping. Então começamos a arrumar as malas.
Esvaziamos meu armário INTEIRO. Só deixamos para fora as coisas que eu vou usar amanhã e no sábado. Enquanto estávamos esvaziando meu armário, achamos uns álbuns de fotos.
Quando eu era pequena, minha mãe costumava tirar muitas fotos minhas.
Começamos a olhar e eu comecei a lembrar de todos os amigos que eu tinha lá no Arizona.
Um dos álbuns é inteiramente dedicado a uma família que era muito unida à nossa.
Pra falar a verdade, nós éramos vizinhos. Então, desde o momento em que meus pais se mudaram definitivamente para os Estados Unidos eles se tornaram grandes amigos.
Nossa família era muito unida. Eu lembro que eu “namorava” com um dos filhos deles. Sabe aqueles namoricos de criança? Haha, meu primeiro selinho foi com ele. Foi tão mágico e fofo.
Nós estávamos no parquinho da escola. Em baixo daqueles brinquedões. Eu sentada em um balanço e ele no outro. Tudo estava quieto. Até que ele pegou a minha mão, eu levante. Ele me deu um selinho e ficou mudo olhando pra mim. Depois nós dois saímos correndo. Também, o que nós falaríamos? Tínhamos só cinco ou sei anos.
Sabe... Esse selinho foi muito mais especial para mim do que muitos beijos que eu já dei ao decorrer da minha vida. Nossa, onde será que eles estão agora?
O pior é que eu nem tenho como procurar por eles. Fazem mais de sete anos que eu não vejo, nem ouço falar de nenhum deles. Nem lembro o nome deles.
Meus pais devem saber. Mas eu não vou perguntar. Porque a última vez que eles falaram sobre eles, começaram a chorar de saudades. E eu não quero passar meus últimos dias no Brasil com a minha mãe chorando.
Então é melhor deixar quieto.
Começamos a ver todas as fotos e eu fiquei relembrando das coisas boas que eu passei lá.
Tinha uma foto em que eu e o tal garoto estávamos vestidos de Wendy e Peter Pan. Muito cuti-cuti.
Arrumamos tudo. Agora tenho oito malas no total. Agora lhe pergunto: como eu vou fazer para levar tudo isso pra universidade?
Espero que o carro desse tal diretor seja grande.
Agora vou dormir porque, apesar de não saber que horas são, eu sei que é tarde.
Boa noite

Sexta-feira, dia 16; em casa, depois das aulas
NÃO DÁ PRA ACREDITAR! É AMANHÃ!
As aulas acabaram e eu passei direto, por incrível que pareça.
Obviamente, a Thaís também. Ela é a pessoa mais inteligente que eu conheço.
Mas é isso. Tudo está arrumado e o avião parte amanhã às sete e meia.
Ou seja, preciso estar no aeroporto às seis pra não ter perigo de eu me atrasar.
E para estar lá às seis, eu preciso acordar as cinco.
E para acordar às cinco eu preciso dormir às nove da noite.
E, bem, eu acho que já são nove horas.
Então, boa noite.

Sexta-feira, dia 16; 4hrs00min (olhei no relógio da cozinha *-*)
Simplesmente, NÃO dá pra dormir sabendo que sua vida vai mudar a partir do dia de amanhã!
Meu deus, como será minha colega de quarto?
E se ela me detestar? E se eu detestar ela? Nós vamos dormir no mesmo quarto pelos próximos DOIS ANOS! Isso é bastante tempo.
Será que eu vou me adaptar?
Caramba, eu estava tão animada com o fato de morar em Los Angeles que eu não parei pra pensar na dificuldade de me adaptar, no começo.
Ai meu deus, meu estômago está borbulhando. Eu tenho que dormir pra essa ansiedade passar.

Sábado, dia 17; 6hrs30min
Tudo bem, eu me atrasei um POUCO.
Agora estamos todos aqui na sala (eu, minha mãe, meu irmão e Thaís [não dá pra acreditar que ela acordou às seis da manhã só para se despedir de mim. Eu vou sentir MUITA falta dela]) esperando meu pai chegar para nos levar ao aeroporto.
Minha mãe não me deixou levar a Lucy, mas para meu alívio, a Thaís disse que vai ficar com ela até eu voltar. E nela eu confio.
Meu pai acabou de chegar.
É agora. Depois que eu sair por aquela porta, é nova vida para mim.

Sábado, dia 17; 8hrs00min
Aqui estou eu no avião. Odeio despedidas. Vou contar o que aconteceu:
Chegamos ao aeroporto, dispensei minha bagagem e fomos tomar café-da-manhã em uma lanchonete do aeroporto.
Quando terminamos já estava na hora do avião partir.
Abracei minha mãe.
Mãe disse chorando: Vai com Deus filha. E me liga quando chegar lá.
Pai: Vai lá filhona. Eu sei que você vai chegar com um diploma nas mãos e eu vou poder dizer: ela se superou!
Foi ai que eu comecei a chorar de verdade.
Eu: Obrigada pai.
Eu o abracei bem forte.
Eu e o Lucas ficamos nos olhando. Foi quando eu percebi que ele também estava chorando.
Nós nos abraçamos.
Lucas: Eu não vou ter mais ninguém pra encher o saco.
Eu: E eu não vou ter mais ninguém para reclamar. Vou sentir sua falta.
Lucas: Eu também.
Nos afastamos. Eu olhei para Thaís. Ela estava vermelha feito um pimentão e chorando muito.
Eu corri para cima dela e dei um abraço tão apertado. Mas recebi o mesmo de volta.
Thaís disse sem me soltar: Eu vou sentir muito a sua falta. Nunca vou ter uma amiga como você.
Eu: Eu também. Jamais vou te esquecer.
Thaís: Nós duas faremos novas amizades, mas nós temos que jurar por tudo que nunca vamos nos separar.
Eu: Eu juro.
Thaís: Eu também.
Me separei dela. Ficamos todos mudos nos olhando por um momento. Depois demos um abraço em grupo, todos juntos.
Eu disse, quase sem fôlego: Eu amo muito todos vocês.
Eles disseram em coro: Nós também te amamos.
Peguei minha malinha, entreguei minha passagem e fui embora.
Naquele momento percebi. Estou deixando para trás tudo que eu vivi até agora. Vou começar uma vida completamente nova.
Sem meus pais, sem minha cachorrinha, sem meu irmão babaca, sem minha melhor amiga...
Tudo de novo.
Agora vou parar de escrever e vou dormir um pouco. Afinal, fazem praticamente três dias que eu não durmo.
Até mais tarde diário.

Sábado, dia 17; ainda no avião
Eu acabei de acordar e acabaram de avisar que o avião vai pousar em cinco minutos.
NÓS JÁ ESTAMOS EM LOS ANGELES!!!
Não dá pra acreditar. É o momento mais feliz da minha vida!
Tudo bem, eu vou parar de escrever. Escrevo o resto quando estiver NO MEU DORMITÓRIO!

Sábado, dia 17; banheiro do dormitório
MEU DEUS! Tudo aqui é tão perfeito... Bem, eu estou escrevendo no banheiro porque não quero que a Megan pense que eu sou louca. Sabe, não louca, mas... Infantil. Eu não acho que escrever em um diário seja infantil. Mas sabe-se lá o que ela pensa a respeito.
O avião pousou e eu saí no aeroporto. Demorei muito até encontrar Phill (o diretor com quem minha mãe havia conversado).
Nós pegamos um taxi e viemos para a Universidade. Ele me deu uma apostila com os meus horários, os regulamentos da escola e tudo que eu preciso saber e me levou até meu quarto.
Megan já estava lá, assistindo TV.
Tudo que eu escreverei de agora em diante, foi dito em Inglês. Mas estou traduzindo caso eu queira ler depois.
Phill: Essa é Megan Farrell, sua colega de quarto. Espero que vocês se dêem bem. Qualquer coisa é só me procurar no prédio comercial.
Eu: Tudo bem, muito obrigada.
Phill: Não tem de que.
E saiu.
Eu: Prazer, eu sou Lara e sou do Brasil. Tudo bem?
Megan: Mmmm... Oi. Você entende o que eu falo?
Eu: Sim, eu morei nos Estados Unidos antes de ir para o Brasil.
Megan: Que bom. Bem, pode ficar à vontade.
Eu: Obrigada. Eu vou ao toalete. Porque, sabe, muitas horas de viagem...
Megan me interrompeu: Não precisa entrar em detalhes.
Eu: Tudo bem.
Eu estava entrando no banheiro quando...
Megan: Ei! Lara.
Eu: Sim.
Megan: Você quer ir comigo hoje em um restaurante. Na verdade é um daqueles restaurantes com karaokê. Eu vou me encontrar com uns amigos lá hoje. Seria uma boa para você se enturmar, que tal?
Eu: Claro, é uma ótima idéia. Obrigada pelo convite.
Megan: De nada.
Bem, e aqui estou eu. Agora vou sair. Megan já está batendo na porta, perguntando se eu estou bem.
Até mais tarde.

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